sábado, 14 de abril de 2012

Conheça um pouco do Padre Viegas

"Padre, tu és o demônio!", disse o bispo Cypriano ao padre José Joaquim Viegas de Menezes, que tomou um susto. Mas era um elogio. O bispo completou: "Não sabe que demônio não significa somente espírito mau, e que também quer dizer astuto, sagaz, inteligente!" O bispo, o governador-geral e muitos outros eram admiradores do padre responsável pela primeira impressão oficial nas Minas (1807), pela primeira tipografia construída no país (1821) e a criação do primeiro jornal da província, O Compilador Mineiro, em 1823. Padre Viegas era um homem brilhante. Apesar da saúde muito frágil, realizou grandes feitos como intelectual, artista plástico e, principalmente, como amante das artes gráficas. Viegas está quase esquecido e sabe-se muito pouco sobre ele. No entanto, um distrito de Mariana, nas Minas Gerais, tem seu nome, apesar da única relação do padre com a localidade é ter estudado lá na adolescência. O poeta e líder da Inconfidência Cláudio Manoel nasceu no distrito, mas preferiu-se homenagear o precursor da imprensa mineira. O que se conhece do padre deve-se a uma carta enviada, em 1851, por alguém que apenas registrou suas iniciais, A.M., e que se dizia amigo de Viegas. A correspondência foi encaminhada ao redator do Correio Official de Minas, com data de 3 de janeiro de 1852, por José Rodrigo Duarte. No entanto, não se sabe o porquê, a correspondência só foi publicada em 1859. A pessoa que encaminhou a carta era muito influente, e mostrava-se preocupada com o registro da memória de Viegas. Acredito que tenha sido José Rodrigo Lima Duarte, redator de periódicos em Juiz de Fora, era médico e foi eleito deputado em sete legislaturas, e uma vez senador. Também foi ministro da Marinha, e no final da vida recebeu o título de visconde Lima Duarte. Uma cidade mineira, próxima a Juiz de Fora, foi batizada com seu nome.
Na carta é possível observar uma grande admiração ao padre, e a intenção de homenageá-lo. O autor da correspondência também deixa claro que não tem todas as informações necessárias para traçar a biografia de Viegas: "Me faltam dados para bem desempenhá-la", diz. Ele começa descrevendo a impressão calcográfica (utilizando chapas fixas de cobre) feita pelo padre a pedido do governador em 1807. E descreve um diálogo entre Viegas e o governador, sobre o qual faz uma observação: "Por muitas vezes ouvimos o finado (padre Viegas) repetir esta conversação que tivera com o general". O diálogo mostra uma relação de proximidade entre ambos, e termina com uma frase bem em que o capitão-general diz que o padre não devia se preocupar com a proibição a atividade de impressão. "Oh! Se é só isso, não se aflija, tomo sobre mim toda a responsabilidade: mãos a obra, meu Padre".

Padre do demônio e a primeira tipografia - Por Jairo Faria Mendes em 07/09/2004 na edição 293

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